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Janela

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Não se trata de dizer que se deva louvar à pandemia a fazer ao mundo, inteiro, padecer em razão dos dramas que ela nos impõe. Desde as perdas de vidas e afetos, até as limitações de mobilidade e convivência como estávamos acostumados, em liberdade somente agora valorizada pelo ensejo que a falta faz ver, nada, nada mesmo, pode ser louvado.

Há, no entanto, que se reconhecer que o período excepcional em curso propicia, ao menos, mínima condição proveitosa (e disto não passa) que se não alenta nem alivia, torna as coisas, digamos assim, menos piores. A democracia, a todo o momento desde que materializada neste país atacada e achacada por atos velados ou explícitos, arquitetados ou improvisados, consciente ou inconscientemente, dolosa ou culposamente, por exemplo, é uma que, nesta hora braba, quem sabe, possa emergir e dar uma respirada.

Notem que, senão pela vez primeira (sei lá, não recordo mesmo), estamos diante de rara oportunidade em que o processo eleitoral não disputa protagonismo com eventos outros a dispersar as atenções que ele merece. Tem décadas, e ninguém me convence de que isso não tenha sido forjado calculadamente, que eleição e jogos esportivos figuram juntos em, dos meios de comunicação aos mais frugais convescotes e conversas coletivas, de todos os tamanhos.

Sim, o processo para eleger presidente da República, senadores, governadores de Estado e deputados federais e estaduais, vejam só, sempre dividiu pautas, logo, com campeonato mundial de nada mais, nada menos, que futebol. Logo futebol, e logo aqui, onde uma esfera de couro numa rede, invariáveis vezes é mais sedutor e importante que qualquer ato ou manifestação dos detentores dos cargos antes arrolados.

Já escolher prefeitos e vereadores representava partilhar reflexões e debates com olimpíadas e, entre menções de candidatos, propostas, posturas e projetos, conhecer e tratar de quem pula mais alto ou mais distante, nada ou corre mais rápido, atira mais longe um disco ou uma pesada bola de ferro, e por aí vai, ou ia. Até pingue-pongue era elevado a status de relevância capaz de desviar atenções da política (pobre dela, nem esporte olímpico é). Que ouvir ou analisar planos econômicos e educacionais, e etecetera e tal, o que! Negócio era ver qual pais punha mais latinhas de ouro, prata ou bronze no peito de seus atletas...

Então, veio a doença, os óbices à realização destes eventos e eis que nos deparamos com tempo sobrando para atentar ao que realmente decide futuros práticos, em modo objetivo. Jogo de bola, esportes em geral, eu sei, são salutares, imprescindíveis à saúde e ao intelecto humano, como à concórdia entre as nações. Mas nos seus limites que, se extrapolados em paixão, turvam e até cegam a visão para o que realmente precisa ser visto.

Diante do tanto em jogo, as modalidades mencionadas e as tantas outras aqui por esquecimento omitidas são, penso, no máximo, maneiras, joinhas, bacanas, legais e até trilegais, enfim. Agora, há janela aberta, sem cortinas, dando para um céu aberto por tempo limpo, para mirar e vislumbrar as verdadeiras estrelas que norteiam o nosso rumo.

Não é o fim do entretenimento. É cada coisa a seu tempo e em seu lugar.

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